Elegy Iberica - 2007
84 páginas - papel de luxo, brilhante e pesado, daquele que até apetece cheirar :-)
42 páginas num sentido e as outras 42 noutro sentido (do avesso), isto é, a "começar na contracapa"
Revista de Música, Arte e Culturas Alternativas & Underground
Edição Portuguesa #6 / Bimestral / PT Continental - 7€
Editor: Ahmad Rahgoshay
Director Geral: David Cruz
Chefe de Redacção: Pedro Novo
Redacção: André Henriques (fot.), Augusta Araújo, Constança Araújo A, David P., Gonçalo Vasco, Gonzalo Muniz, José de Almeida, Luís Salvedas (Milkman Studios), Luiz Soncini, João Carlos (Milkman Studios), Miguel Silva, Mónica Bastos, Paulo Perdiz (Rádio Terranova), Pedro Novo, Tarântula.
Colaboradores: Álvaro Fernandez, António Carreira (Street Dog Studio), Bruno Jesus, Carlos Castro (Rock Heavy LOUD), Carlos Matos, Catalina Isis Millán (Sonido Obscuro), Catarina Medina, Cephas Solis, Cristian Rubio Villaró, Dora Carvalhas, Fábio Franco, Francisco Carvalho, João Ventura, Korngan (Batcult), Maria Augusta araújo, Mário Nabais, Mauri Ibanez Sangés, Miguel Silva, Miguel de Souza, Nelson Coelho, Paulo Moreira, Pedro Penãs Robles, Raquel Almeida, Rene Kojtani, Reynaldo Gonzales A, Sónia Gomes, Yorgos Goumas.
Reportagem Concertos
Of The Wand And The Moon
Sociedade União Sintrense - 15.12.2006
Sintra - Dagaz Music
"O raiar de uma lua dinamarquesa"
Depois de uma reentrada em cheio com os concertos dos Spiritual Front e do violinista Owen Pallett dos Arcade Fire, sob o nome de Final Fantasy, em Outubro passado, a organização Dagaz Music apostou, com
excelente pontaria, num concerto duplo, a uma semana do solstício de Inverno, e o qual reuniu duas almas quase gémeas do novo folk europeu, a saber o projecto maioritariamente alemão Sonne Hagal (SH), e os dinamarqueses Of The Wand And The Moon (OTWATM), de Kim Larsen. Assim, uma espécie de audiência "reciclável" ("somos sempre os mesmos", costuma ouvir-se neste reencontros) esteve de volta a Sintra para mais uma noite em família com esta música que teima em resistir, este híbrido da tradição folk, que nos últimos 20 anos se entrecruzou (com surpreendente eficácia!) com as matrizes industrial, ambiental e marcial, sem que daí resultasse qualquer forma musical "crioula", o que talvez se traduza na chave-mestra do mistério "dark-folk"... Para começar, são óbvias as várias asserções que não escamotearemos: sim, é óbvio que as duas bandas desta noite são praticamente o mesmo grupo, apenas mudam de instrumentos em palco; é também óbvio que devem muita inspiração aos "pais" britânicos do "movimento", como os Death In June,
os Sol Invictus, os Fire and Ice, etc.; será ainda mais óbvio que, a julgar pelos nomes dos colectivos, os seus membros são pessoas dadas ao conhecimento desse ancestral oráculo europeu - as Runas; por fim,
eventualmente por serem nórdicos, são donos de uma frieza gentil e receptiva, que se escuda atrás de uma distância atenciosa, sem nos fazer grandes concessões pessoais, a nós, pobres latinos, sempre à caça de
emoções exteriorizáveis e mortinhos por debitar homéricas torrentes de conversa... Em palco, tanto os OTWATM, como os SH, que abriram a noite, quase balbuciam as informações estritamente necessárias para ilustrar à audi~encia o tema que se segue; a apresentação dos SH é curta (apenas 6 temas), mas dá para entrever uma crescente coesão neo-folk que já se adivinhava no belíssimo mini-lp "Nidar". E mesmo com o já distante álbum "Helfahrt" como principal referência, não foi difícil ás 70 pessoas na sala da Sociedade União Sintrense, sentir que as próximas materializações sonoras dos SH lhes farão ainda maior justiça. Com a mudança de posições em palco e a focagem na peculiar figura de Kim Larsen / OTWATM, qual "karl" viking, calvo e de longa barba ruiva eriçada, dá-se o fenómeno da transmutação. Com a serenidade que o caracteriza, guitarra acústica em punho, repõe temas do mais recente álbum "Sonnenheim", assim como dos anteriores "Nighttime Nightrhymes", "Lucifer" e "Emptiness, emptiness, emptiness...", apenas pontuados pelo ritmo marcado nos "kettle-drums" por Oliver dos SH, e com o "back-up" da guitarra eléctrica e das teclas dos outros dois músicos convidados para esta encarnação de OTWATM. Num concerto com semelhante enquadramento, os dois encores finais são um sinal de dupla leitura - um público indefectível e uma agradável surpresa para o próprio Larsen. No "aftermath" Rui Carvalheira da Dagaz Music, irónico, anunciava-nos que não tinha vontade de organizar mais nenhum concerto - já que este tinha elevado a fasquia o mais alto que alguma vez pudera sonhar...
Conversa com um Viking
Apenas umas horas antes, e após ambas as bandas terem completado o respectivo "sound check", havíamos trocado breves impressões com Kim Larsen dos OTWATM. Assim, esta foi a primeira data de uma
pequena apresentação ibérica, aliceçada sobretudo ainda no mais recente álbum de originais Sonnenheim, com cerca de um ano de existência. Larsen não adianta para já outras saídas embora preveja o seu regresso para breve à Alemanha, onde como sabemos os festivais Dark Folk são quase tantos como os cogumelos.
"Sonnenheim" foi um disco que levou algum tempo a preparar, tendo em conta que este é o modo como Kim Larsen gosta de trabalhar - espaçadamente, com rigor e minúcia na produção dos temas, não havendo por isso grande pressa em avançar para o seu sucessor. De acordo com as expectativas, o último álbum dos OTWATM teve o impacto desejado, com uma boa distribuição assegurada na Europa pela Tesco
Organisation. Na proverbial modéstia que o caracteriza, Larsen é frontal mesmo quando confessa a sua grande dificuldade em julgar os seus próprios trabalhos, não fazendo distinções de qualidade entre o último e os seus anteriores - apenas diz que foi um álbum que lhe deu um pouco mais que fazer do que o habitual.
Kim Larsen aceita a observação que aponta o 1º álbum de 1999, "Nighttime Nightrhymes", como o seu disco mais abrangente e aberto a um leque estilístico mais variado, mas aos seguintes "Emptiness emptiness
emptiness" e "Lucifer" considera-os mais como duas partes do mesmo conto. Mantendo a parcimónia, Larsen concede pontos à apreciação de que são dois álbuns intensos, introspectivos e nada inferiores aos
primeiro e último. À nossa questão de como pôde ser "Lucifer" um disco tão eficaz, baseando-se à partida em temas que já estavam previstos e gravados para "Emptiness...", Kim Larsen encolhe vagamente os
ombros afirmando que nada mais fez que reavivar o que ainda estava em brasa, isto é, tratava-se de canções com uma força natural que facilmente puderam ser trabalhadas com mais afinco, resultando muito bem na pós-produção.
Num outro momento da conversa, o dinamarquês confessou-nos o seu quase total desconhecimento da cena portuguesa em matéria de dark-neo-folk, ou mesmo este "novo folk", e quando lhe demos como
referências os nomes de Sangre Cavallum, Karnnos, Wolfskin, Beltane ou The Joy of Nature, foi-nos respondendo com vagas interjeiçoes de quem já tinha ouvido falar ou mesmo conhecido um ou outro tema. De resto, nas suas palavras, persiste ainda alguma falta de consistência neste movimento europeu, que recupera uma tradicional genealogia musical, cuja origem se perde na noite dos tempos. A título de exemplo
apontou-nos o recente disco de solidariedade com o alemão Andreas Ritter, dos Forseti, apropriadamente intitulado "Forseti Lebt". Andreas sofreu no ano passado uma paragem cárdio-respiratória que o arredou
definitivamente da actividade musical, e "Forseti Lebt" reúne as participações de nomes amigos como Death In June, Waldteufel, Fire and Ice, Sonne Hagal e B'eirth dos In Gowan Ring, entre outros, revertendo a
venda para a recuperação de Andreas.
Foi esta a nossa breve conversa com este viking bem pacato, e citando a canção ".. um pouco tímido até", não obstante um certeiro sentido de humor, a julgar pela sua mensagem final para os admiradores Portugueses - "Keep on rockin in the free world...".
João Carlos Silva / 4Luas Aveiro FM, 96.5Mhz
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