Musicalíssimo
Junho 79
Preço 50$00
Nº 5
Director e Editor: Jacques C. Rodrigues
Chefe de Redacção: J. Afonso Costa
Corpo Redactorial: João Filipe Barbosa; João Pedro Araújo, Gonçalo Tello, Fernando Quinas, Carlos J. Gomes, J. Afonso Costa, José Pedro Reis.
Fotógrafo: Jorge Jacinto
Propriedade: Editorial Globo - Apartado 10 - Queluz
54 páginas A4 - papel de peso médio - páginas a cores e a p/b numa proporção de cerca de fifty-fifty.
Poster A3 (centrais) - Village People
Os leitores também escrevem...
Rock Em Almada No Canecão
O rock new wave português deu boa conta de si no Canecão, no passado dia 17 de Fevereiro. Estiveram presentes, apesar da deficiente propaganda, cerca de 200 pessoas (sala quase cheia), numa das cenas mais curtidas da nova geração de músicos rock portugueses.
Uma boa surpresa naquele fim de tarde ali em Cacilhas, entre a velha-nova cidade de Almada e o ancoradouro de petroleiros da Lisnave, onde o rock gritou toda a sua carga social através do decibeis sonoros dos dois únicos grupos sobreviventes da new wave portuguesa - o AQUI D'EL ROCK e o UHF (grupo este originário da cidade-dormitório) - que convenceram e fizeram vibrar quantos pagaram 50 paus pela cena.
Parece-nos bastante inútil falar da sala, acústica, etc. (como certos cátedras da pena), porque, amigos meus, as boas salas de concerto portuguesas não estão abertas ao rock, nem o rock (este) se faz para acomodar os corpos da assistência. Assim como quem vive na cidade e circula na vida.
Daí que tudo foi bom. Distúrbios não os houve, a não ser uma pequena confusão, sanada ali pelo pessoal, mas de certeza menos violenta que as batalhas campais do futebol português institucionalizado. Uma questão de culturas e frustrações. Afinal nós até somos uns tipos porreiros. O rock é um retrato social, um erro como o álcool, uma fuga parada, e a sua violência é despertante, purificadora.
Os grupos deram tudo. Energia, vibração plena, a força do rock, o nervosismo da luz, os temas que vão fazendo o cancioneiro do rock em Portugal, este universalismo de sentimentos, este sofrer os malefícios da vida obrigatória - vida na cidade.
Primeiro os UHF, foram mais longe do que se esperava. Grupo quase desconhecido, mostrou-se avassalador no palco, dominando-nos com um sentido perfeito do rock-concept. Temas de grande inteligência poética, no rock e nos blues. Quase hora e meia de espectáculo e no fim não os queriam ver dali para fora. Gostámos. A merecerem outra atenção.
O AQUI D'EL ROCK Mais seguro dos últimos tempos. Melhor que em Novembro no BROWNS. Maior dinamismo mais profissionalismo, uma barreira de som a tornar-se imponente. Em resumo, um segundo disco gravado e »EU NÃO SEI», bisado. Grupo leader da cena. Músicos do couro, filhos descontentes do orgulho banal.
Com estes dois grupos fez-se a melhor cena (ou a única) da new wave portuguesa destes últimos tempos.
Parabéns à malta e ao CANECÃO pela coragem.
SID VICIOUS IS NOT DEAD.
Assinam dois lunáticos do rock:
Carlos Ribeiro
Lídia Abreu
(alguns dos) Discos em Análise:
Jean Luc Ponty - «Cosmic Messenger»
Blondie - «Parallel Lines»
David Bowie - «Stege»
Weather Report - «Mr. Gone»
Supertramp - «Breakfast In America»
Roxy Music - «Manifesto»
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